Aruanas: os alimentos que contam histórias e sustentam o futuro
- Luan Cardoso
- 3 de jun.
- 3 min de leitura
Em um momento em que o mundo volta os olhos para a Amazônia, estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA) unem saberes acadêmicos e tradições locais para transformar frutas nativas em produtos que carregam sabores e vivências. O Aruanas, negócio de impacto social criado pela Enactus UFPA – organização universitária que desenvolve soluções empreendedoras baseadas nos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU –, comercializa mel, geleias artesanais e barras de cereal feitas com insumos regionais, promovendo sustentação ambiental e justiça econômica. O negócio se destaca como exemplo de bioeconomia que conecta o desenvolvimento local à agenda global.

O Aruanas é resultado do mapeamento que estudantes realizaram sobre os desafios enfrentados pelos pequenos agricultores da região, que muitas vezes não conseguiam escoar suas produções de forma justa e lucrativa.
“Nosso objetivo é mostrar que é possível desenvolver a economia da região, com a floresta em pé. Seguimos o princípio da bioeconomia, que é gerar valor a partir do uso sustentável dos recursos naturais, transformando ingredientes da Amazônia em alimentos saudáveis, e respeitando os ciclos da natureza” , conta Amanda Monteiro, líder do negócio.
Por meio da parceria com a Associação de Apicultores de Vigia de Nazaré, o Aruanas compra polpas de frutas e outros insumos, garantindo uma relação comercial justa e solidária. Além da comercialização, o negócio promove capacitações e consultorias para os produtores locais, com treinamentos sobre manejo do solo e incentivo ao reaproveitamento de recursos naturais, como o mel produzido na própria comunidade.

“Estamos junto das comunidades enfrentando de perto os desafios de quem vive na Amazônia. Já implantamos Sistemas Agroflorestais (SAFs) em áreas que sofreram com queimadas e degradação. Isso ajuda a recuperar o solo, trazer de volta a biodiversidade e garantir formas de produção sustentáveis, que respeitam a floresta e geram renda para quem vive dela”, destaca Amanda. Atualmente, o Aruanas oferece três linhas principais de produtos: geleias artesanais com sabores tradicionais da região, como cupuaçu e bacuri, barras de cereal nutritivas que utilizam ingredientes locais e o mel – sendo este último feito em colaboração com a comunidade que é atendida.
Desafios e expectativas
O negócio também enfrenta desafios comuns aos pequenos empreendimentos na Amazônia, como as dificuldades logísticas e a inserção em mercados mais amplos. Para superá-los, o grupo aposta na colaboração com a universidade – na utilização de laboratórios, por exemplo –, no fortalecimento das redes locais de apoio e na busca por parcerias institucionais.
Segundo dados do Sebrae, em setembro de 2024, os pequenos negócios representaram 96% dos empreendimentos formais criados no Brasil e foram responsáveis por um recorde de geração de empregos no mesmo ano. Na região amazônica, iniciativas de bioeconomia como o Aruanas têm um papel estratégico na geração de renda com preservação ambiental, o que as coloca no centro dos debates sobre desenvolvimento sustentável durante a COP 30.

Com a realização da Conferência das Partes, em Belém, a expectativa do Aruanas é ampliar sua atuação, consolidar parcerias e ganhar visibilidade como exemplo de bioeconomia amazônica. “Com um evento desse porte acontecendo no coração da Amazônia, o mundo inteiro está olhando pra cá e isso reforça tudo o que sempre acreditamos: que a floresta em pé tem valor e que a bioeconomia é o caminho pro futuro”, ressalta Amanda Monteiro.

A líder do Aruanas antecipa que o negócio está em expansão, se preparando para apresentar seus produtos e sua história para um público maior: “Estamos participando de articulações com parceiros, redes e espaços que vão movimentar a cidade durante a COP, não só em eventos oficiais, mas também em feiras, rodas de conversa, espaços de inovação e mercados sustentáveis que estão sendo organizados paralelamente”, conclui.
O Aruanas trilha seu percurso, mostrando que pequenos negócios podem ter um grande impacto quando enraizados no território e no cuidado com o meio ambiente – um exemplo que ecoa do Norte do país para o mundo, em um momento em que o planeta precisa ouvir mais as vozes da floresta.
Comments