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TÁ TREMENDO AÍ? O sucesso do Tecnobrega e das aparelhagens pelo Brasil

Foto do escritor: Revista CabanosRevista Cabanos

Por Aymê Campos e João Dantas


Não é novidade que a música e a cultura paraense vêm tendo destaque pelo Brasil, e falar do Pará sem citar o Tecnobrega e as festas de Aparelhagem é quase um pecado. Recentemente, a cantora Gaby Amarantos foi nomeada a Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado do Pará, e em 2023 conquistou o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa com o álbum “TecnoShow”. A cantora Pabllo Vittar deu ênfase nesse ritmo com seus álbuns, “Batidão Tropical vol.1” e “Batidão Tropical vol.2”, o último lançado pela artista, que cativou não só o público brasileiro, mas também a América Latina, com trends nas redes sociais e shows lotados pelo Brasil.


Mas o Tecnobrega, apesar de ter se tornado conhecido fora do Pará, sofreu com diversas discriminações ao longo da expansão musical, por ser um estilo independente que surgiu na periferia da capital paraense. Tratado por muito tempo como “música de má qualidade”, o ritmo se manteve por meio da distribuição de vendedores ambulantes e com destaque nas chamadas festas de aparelhagem.


O professor de história José Leandro Nunes, pesquisador de tecnobrega, conta que sua motivação para o estudo foram suas vivências. Por nascer e crescer na periferia de Belém, sempre teve um contato com as festas de aparelhagens.


Foto: Crocodilo / Reprodução
Foto: Crocodilo / Reprodução

“Eu vejo esse reconhecimento como algo extremamente importante para o crescimento do movimento, para valorizar os artistas que estão aí na luta a muito tempo, que sempre tiveram orgulho de levar o nome do brega para onde eles foram. Ele ganhou força no centro e sempre existiu na periferia. O centro passou a consumir e, quando ele parou, o brega continuou existindo da mesma forma na periferia. As periferias inventam e reinventam o nosso ritmo constantemente.”


Sobre a popularização que vem acontecendo, Nunes diz que as pessoas de fora não têm uma grande noção do que é o Tecnobrega e de como ele se constrói diariamente. Para ele, as pesquisas e os artistas têm o papel de justificar o brega para que as pessoas consigam entender o modo de produção, de distribuição, de como é feito, vendido, comprado e consumido.


 

Destaques paraenses em forma de arte e produção


Esse movimento, que nasceu em meados dos anos 2000, nas periferias de Belém, agora conta com mais apoio dos próprios artistas paraenses. O Festival Psica, que teve suas primeiras origens em 2012, é um dos principais festivais independentes da Amazônia que promove a expansão da cultura nortista, preta e periférica, colocando o Tecnobrega em destaque, sempre tentando trazer atrações do ritmo.


O número de artistas do ritmo vêm crescendo no festival desde 2015. Jeft Dias, um dos produtores do Psica, diz como originou essa vontade de levar o Tecnobrega para o centro dos palcos: Eu e meu irmão nunca saímos da periferia da Região Metropolitana de Belém. A gente é da Cidade Nova, então nós crescemos nesse rolê do Tecnobrega tendo meu pai como um dos caras que fazia parte desse universo. Meu pai trabalhava com pirataria, com a venda do CD pirata. A gente estava muito em contato com os artistas desse ritmo e com o universo do Tecnobrega. Levamos isso de alguma forma para o festival e, em 2021, inserimos as aparelhagens em lugar de destaque também. Começamos a perceber muito antes que o grande diferencial do nosso festival era a pegada local, regional e urbana da Amazônia” .


Foto: Adriely F
Foto: Adriely F
Foto: Tuyuka Lara
Foto: Tuyuka Lara

Para a COP 30, os pensamentos são em como essa cultura periférica e amazônica vai se mantendo de forma independente e de como ela conseguiu se manter por anos e anos. Jeft diz que vai ser um momento de fortalecer a conexão das culturas.


“Agora é só botar o pé no mundo. Quem vem com a gente se some. Mas, quem não vem,  sai da frente que a gente tá passando”

Em 2024, o Psica Produções e o Instituto Regatão Amazônia, realizaram a 1° Edição do Festival de Tecnobrega e Aparelhagem em Belém, nos dias 27, 28, 29 e 30 de maio, contando com uma variedade de serviços para além dos shows, como debates, palestras e mesas. E já está confirmada a 2ª Edição do evento em 2025.


Júlia Martins, que fez parte da comunicação do Festival de Tecnobrega e Aparelhagem, fala sobre suas experiências e sinaliza pontos importantes.


Foto: Liliane Moreira / @lilismoreira
Foto: Liliane Moreira / @lilismoreira

“O Festival de Tecnobrega nasce de uma necessidade. Eu acho que é importante falar que, pra quem não consome a cultura desse estilo e não trabalha na cultura do Tecnobrega, a gente tem que tirar uma coisa da nossa cabeça, que é: não querer dizer que nós somos os criadores e inventores da roda, que somos nós quem vamos colocar a cultura de Tecnobrega e Tecnomelody em ascensão a partir das nossas ferramentas. Não. Esses dois ritmos já existem há muito tempo, eles sempre foram muito independentes. Eles têm a sua própria economia, a sua própria individualidade. Se a gente quer se somar nesse movimento, é entendendo que eles têm essa independência, porém que precisa de um maior fortalecimento de outras áreas do setor cultural”.



Júlia afirma que o movimento atual para dar maior visibilidade a eles é resultado do esforço contínuo de quem sempre esteve lutando por essa causa, as pessoas que estão no mercado há mais de 30, 40 anos, sempre carregando um estilo visto por muitos como “marginalizado”, “música de pobre”, “música de ladrão” e música que “não tinha tanta intelectualidade”. Eles conseguem esse ‘boom’ muito pelas pautas identitárias, onde colocam que a cultura feita por pessoas pretas, periféricas e indígenas é uma cultura válida também. Juntamente com isso surge o Festival de Tecnobrega e Aparelhagem, para servir como acervo, porque muitas das produções e muitas histórias desses dois ritmos não possuem registro oficial. Em outras palavras, é tudo na base da oralidade.


A principal missão, para além do “hype”, é para que esses artistas sejam bem remunerados. Reconhecer que eles são dignos de um cachê decente como os artistas que vem de fora, é investir no estado. Ela continua: “Então, esse movimento ganha mais força agora porque são anos de trabalho de uma galera que iniciou lá atrás. Não dá mais pra fechar os olhos pro movimento da periferia. Agora é só botar o pé no mundo.

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