Por Júlia Santos e Milena Guilleto
Povos indígenas e quilombolas fazem do artesanato uma alternativa para a proteção dos seus territórios
Fortalecer a arte e a cultura é fundamental e prioridade para o povo Gavião, da terra indígena Governador, no sul do Maranhão. No território do povo Gavião, a busca é por preservar as tradições culturais da comunidade e fortalecer a produção e comercialização do artesanato produzido nas aldeias. Os artesãos são formados principalmente por mulheres da comunidade.
O trabalho, feito de materiais da natureza, incentiva o desenvolvimento sustentável e demonstra como as populações indígenas desempenham um papel fundamental na conservação de florestas, com atividades produtivas que contribuem para fortalecer a proteção de seus territórios.
Através das formas artísticas, os povos mantêm vivas suas histórias, rituais e sabedoria ensinados ao longo de gerações. Fortalecer a arte e a cultura é fundamental e prioridade e a comercialização do artesanato produzido nas aldeias é essencial, pois as produções são importantes para manter a cultura viva.
“Já nascemos sabendo a importância da nossa ancestralidade e o artesanato sempre esteve presente na nossa cultura”, diz Daniela Gavião, jovem ativista indígena e estudante de Direito na Universidade Federal do Pará (UFPA).

Se conectar com a natureza é a maior medicina da atualidade. “Não somos nós e a natureza. Nós somos a natureza”, afirma Daniela.
Muitos dos saberes que os diversos povos e comunidades tradicionais praticam na convivência com o Cerrado - como os artesanatos de palha de buriti, os múltiplos usos do coco-babaçu e a agricultura de cheia e vazante dos rios - foram desenvolvidos e adaptados ao longo do tempo pelos povos indígenas.
O artesanato para as comunidades quilombolas
Os artesanatos tradicionais têm grande importância cultural, social e econômica também para comunidades quilombolas. Eles preservam o patrimônio cultural do território, transmitindo conhecimentos e técnicas de geração em geração. Cada peça artesanal reflete a identidade, história e valores de um povo, ajudando a manter vivas tradições que podem se perder com o tempo.

O artesanato promove a inclusão e a valorização dos saberes locais, fortalecendo laços comunitários e empoderando artesãos, especialmente em regiões quilombolas. Ele também gera empregos e é uma fonte de renda para muitas famílias.
No aspecto econômico, o artesanato tradicional pode impulsionar o turismo cultural, atrair visitantes interessados na autenticidade das peças e estimular a economia local. Além disso, os produtos artesanais são cada vez mais valorizados pela sua originalidade, sustentabilidade e conexão com práticas ecológicas.
Cláudia Conceição, moradora do quilombo Maracujá da associação AQUIMRIMJJ, localizado no Baixo Acará é mãe de seis filhos e artesã de sua comunidade. É o dinheiro que ela adquire com a venda dos paneiros que ajuda a manter sua família.

“As pessoas ainda têm um grande preconceito com quem vive do artesanato. Muitas vezes eles nos olham como se nós não fossemos necessários para a sociedade. Sendo que a maior parte dos fabricantes está concentrado nos quilombos. Fazemos os cestos de talar, paneiros, matapi para pegar camarão. Me sinto soma de uma personalidade e de uma artista, porque eu vivo da arte”, diz Cláudia Conceição, quilombola e ribeirinha.
Os quilombolas sabem há séculos que sua sobrevivência - e a do planeta - depende diretamente de uma relação harmoniosa com a Mãe Natureza.
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