
O Pará provou sua potência no esporte marcial com a classificação de três atletas femininas para compor a seleção brasileira de karatê. Entre os dias 25 e 27 de outubro, no Japão, o Brasil disputará o Campeonato Mundial da Japan Karate Association (JKA). Contudo, para além do desafio dentro do tatame, a luta ainda permanece do lado de fora, visando conquistar visibilidade, apoio e espaço no karatê feminino competitivo.

Manuela Oliveira, de 14 anos, já acumula títulos como campeã sul-americana, brasileira, paraense e já foi indicada ao Prêmio Rômulo Maiorana. Apesar de enfrentar lesões e cirurgias no Ligamento Cruzado Anterior (LCA) e no pé, Manuela se recuperou com o auxílio da fisioterapia e sua determinação. “Tive que ficar um tempo parada, o que foi extremamente ruim. Para nós, atletas, voltar e recuperar tudo de novo é péssimo, sentimos mais dor ainda. Acho que consegui me recuperar bem, ainda sinto algumas dores, mas a fisioterapia me ajudou (e ainda ajuda) muito, e minha vontade de sempre estar melhorando também me ajudou. Se eu não tivesse essa vontade, eu não teria voltado a treinar.”
Treinando majoritariamente com meninos, Manuela vê isso como uma vantagem: “Quando chego nos campeonatos e aparece uma menina ‘gigante’, que provavelmente muitas pessoas teriam medo, eu penso que treino com pessoas daquele jeito. Então, eu só vou, meto a cara e tento fazer meus pontos (quando é luta) e, quando é no kata, faço o que sei”. Sobre representar o Pará, ela comenta: “Eu fico muito, muito feliz. Os atletas do estado do Pará, no esporte amador, não possuem o reconhecimento que deveriam ter. Então, levar o nome do estado para fora, representado num mundial e sendo da seleção brasileira, acho que é muito importante para o reconhecimento do esporte. Para o karatê, principalmente, pois infelizmente não tem muito reconhecimento. Então, fico muito feliz e, acho que, orgulhosa, principalmente por saber que meu esforço valeu a pena.”

Bruna Robert, de 16 anos, começou a treinar karatê aos 4 anos e já foi convocada quatro vezes para a seleção brasileira. Entre seus títulos estão o de decacampeã paraense, pentacampeã brasileira e campeã mundial pela ITKF (International Traditional Karate Federation). Bruna também busca visibilidade e patrocínio: “É difícil, principalmente por eu ser mulher e de um esporte de luta, mas seguimos correndo atrás. A gente está conseguindo um apoio dos órgãos do governo, mas é uma viagem que tem um custo muito alto, ainda falta apoio. Além do mais, nós somos parte da seleção de base, então muitas pessoas não dão credibilidade aos nossos títulos. Do mesmo jeito, estamos tentando, fazendo o que podemos.”
Ainda ultrapassando as barreiras de gênero, Bruna também treina, em sua maior parte, com meninos. Tradicionalmente, as artes marciais e os esportes de combate eram arenas dominadas pelos homens, porém, a paisagem mudou dramaticamente. De acordo com dados do Comitê Olímpico Internacional, as Olimpíadas de Tóquio 2020 tiveram o maior número de participantes femininas em esportes de combate. As mulheres representaram 45% dos competidores nos eventos de judô, boxe, luta e taekwondo. Ainda assim, a luta pela equidade de gênero nas categorias de base, na realidade brasileira, é mais complicada do que parece.
Ela destaca que sua primeira sensei foi Sônia Coutinho, sua grande inspiração. “Eu comecei no karatê e sempre tive uma grande referência. Minha primeira sensei, Sônia Coutinho, foi minha inspiração, mas hoje também sou minha própria referência. Representar o feminino no karatê é muito importante para mim, porque o karatê é visto como um esporte masculino, mas não é. Quando entrei na seleção, fiquei muito feliz, porque vi outras mulheres e me vi nelas. Ser mulher nesse contexto é representar uma grande classe e inspirar muitas pessoas. O mais importante é representar todas as mulheres que têm vontade de fazer uma arte marcial ou de entrar no mundo do esporte e mostrar que sim, nós podemos!”

Sofia Magalhães, de 12 anos, é a mais jovem das três e possui um currículo igualmente impressionante: campeã brasileira por três federações – Confederação Brasileira de Karatê (CBK), Japan Karate Federation (JKA) e International Traditional Karate Federation (ITKF) –, além de campeã paraense e vencedora da Copa Kids. Sofia fala sobre a importância de sua presença no campeonato: “Acho que ajuda bastante. Eu já fui uma dessas meninas que queria participar por causa de outras meninas. Acho muito importante isso para nós, para mostrar que a gente consegue também estar ali, junto com os meninos. A gente consegue!”
Com a participação das três atletas paraenses em um campeonato mundial, a influência do mundo competitivo para outras meninas passou a ser muito maior. No karatê, a ideia de que ainda é um esporte predominantemente masculino vem sendo quebrada nos últimos anos, colocando as mulheres em pé de igualdade. Apesar de a maioria dos competidores ainda ser masculina, Bruna, Manuela e Sofia são a prova de que o esporte quebra barreiras. Seus exemplos de garra, confiança e persistência passam a ser a cara do karatê feminino paraense, demonstrando, assim, o amor pelo esporte e o seguimento do verdadeiro caminho do Karatê-Do.

Por Maria Paula Borges
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